Filme não é ilusão?
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007 por Darwin
Copenhagen, capital da Dinamarca é conhecida por sediar a mais antiga monarquia do mundo, ser a terra dos vikings e de Hans Christian Andersen, que escreveu os contos “A pequena sereia” e “O patinho feio”. Mas na primavera de 1995 dois cineastas em um momento de tédio e iluminação (combinações essenciais para grandes acontecimentos) escreveram um manifesto contra a forma de fazer cinema daquela época. Lars Von Trier e Thomas Vinterberg lançaram o polêmico Dogma 95, que estabelecia o “Voto de Castidade” uma série de regras que impedia o uso de intervenções “milagrosas” para distanciar o cinema da realidade.
Manifesto do Dogma 95.
O Dogma 95 é um movimento de cineastas, fundado em Copenhagem na primavera de 1995. O Dogma 95 tem o compromisso formal de levantar-se contra uma "certa tendência" do cinema atual. O Dogma 95 é um ato de resgate! Em 1960, tivemos o bastante. O cinema estava morto e invocava a ressurreição. O objetivo era correto, mas não os meios. A Nouvelle Vague se revelava uma onda que, morrendo na margem, transformava-se
Hoje, uma tempestade tecnológica cria tumulto. O resultado será a democratização suprema do cinema. Pela primeira vez, qualquer um pode fazer filmes. Mas quanto mais os meios se tornam acessíveis, mais a vanguarda ganha importância. Não é o caso que o termo vanguarda assuma uma conotação militar. A resposta é a disciplina...devemos colocar os nossos filmes em uniformes, porque o cinema individualista será decadente por definição. Para erguer-se contra o cinema individualista, o Dogma 95 apresenta uma série de regras estatutárias intituladas "Voto de castidade". Em 1960, tivemos o bastante. O cinema havia sido "cosmetizado" à exaustão, dizia-se. Dali em diante, todavia, a utilização dos "cosméticos" aumentou de modo inaudito. O objetivo supremo dos cineastas decadentes é enganar o público. É disto que nos orgulhamos? É a este resultado que nos conduziram cem anos de cinema? Das ilusões para comunicar as emoções? Uma série de enganos escolhidos por cada cineasta individualmente?
A previsibilidade (a dramaturgia) tornou-se o bezerro de ouro em torno do qual dançamos. Usar a vida interior dos personagens para justificar a trama é muito complicado, não é a "verdadeira arte". Mais do que nunca, são os filmes superficiais de ação superficial que são levados às estrelas. O resultado é estéril. Uma ilusão de pathos, uma ilusão de amor.
Para o Dogma 95, o filme não é ilusão!
Hoje em dia, arma-se uma tempestade tecnológica. Elevam-se os "cosméticos" ao status de deuses. Utilizando a nova tecnologia, qualquer um pode - em qualquer momento - sufocar a última migalha de verdade no estreito canal das sensações. As ilusões são tudo aquilo atrás do qual pode esconder-se um filme. Dogma 95, para erguer-se contra o cinema de ilusões, apresenta uma série de regras estatutárias: o Voto de Castidade.
Voto de Castidade
1. As filmagens devem ser feitas em locais externos. Não podem ser usados acessórios ou cenografia (se a trama requer um acessório particular, deve-se escolher um ambiente externo onde ele se encontre).
2. O som não deve jamais ser produzido separadamente da imagem ou vice-versa. (A música não poderá, portanto, ser utilizada, a menos que ressoe no local onde se filma a cena).
4. O filme deve ser
5. São proibidos os truques fotográficos e filtros.
6. O filme não deve conter nenhuma ação "superficial". (Em nenhum caso homicídios, uso de armas ou outros).
7. São vetados os deslocamentos temporais ou geográficos. (Isto significa que o filme se desenvolve em tempo real).
8. São inaceitáveis os filmes de gênero.
9. O filme deve ser em
10. O nome do diretor não deve figurar nos créditos.
Copenhagem, 13 de março de 1995
Em nome do Dogma 95,
Lars von Trier
Uns dizem que essa é uma forma de elevar o cinema amador ao estado de arte, outros consideram uma maneira de democratizar o cinema, qualquer um pode fazer um filme, basta ter uma câmera. Os dois primeiros filmes do Dogma 95, Idiotern do Lars Von Trier e Festern do Thomas Vinterberg foram considerados os melhores de 1998. Esses filmes foram feitos em vídeo “e são, enquanto cinema, infinitamente superiores a qualquer centena de filmes cometidos anualmente
Extras:
Essa semana saiu uma matéria na Folha de São Paulo e no jornal O Povo falando que próximo ano deverão ser lançados quatro filmes brasileiros aos moldes do Dogma 95, produzidos pela Pax Filmes. Na verdade a Pax não segue os moldes do Dogma, embora seja influenciada pelos trabalhos dinamarqueses. Em seu blog, Paulo Pons (produtor, roteirista e diretor) deixa claro que a semelhança com o Dogma está em fazer filmes baratos sustentados em um roteiro inteligente, boas atuações e uma equipe engajada, Já é possível ver o making of de Vingança, o primeiro desses filmes, que deverá ser lançado até junho do próximo ano.
http://www.paxfilmes.tv/blog/?cat=3
- Existem 233 filmes nos moldes do Dogma 95, reconheidos pelo site do movimento, são filmes espanhóis, franceses, chilenos, argentinos, italianos, americanos...http://www.dogme95.dk/menu/menuset.htm
- O manifesto do Dogma 95 foi considerado por muitos críticos e cineastas uma estratégia barata de marketing
- Lars Von Trier só fez um filme nos moldes do Dogma
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