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Amarelo vistoso, mas que muita gente vira a cara.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008 por OMota

 


Feridas purulentas, hepatite, dentes podres, ou como anuncia a música feita pela Nação Zumbi, "Amarelo do cabo da enxada\Vivendo no chão ja cansado e antigo\De cara rachada\Do sorriso encardido\No rosto do povo fudido e sofrido\Com a carapaça cansada". O Amarelo que está presente em tudo que se possa ter asco, o Amarelo fruto do tempo. A obra de Cláudio de Assis se baseia nesse amarelo mais esquecido, um amarelo que quase ninguém vê e que quando vê, vira a cara.
Amarelo manga (2003), original filme do pernambucano Cláudio Assis, foi o grande vencedordo XIII Cine Ceará e "papou" prêmios e elogios rasgados por onde passou, achei por bem abrir um espaço nesse blog para falar de um filme instigante, que não é pra se assistir com a cabeça ao léu, a esperar uma obra "degludível", mas sim, pra se ter total atenção aos elementos, aos atos de cada personagem. Já vi muita gente escrever asneiras sobre o filme e em muitas opiniões uma afirmativa sempre me irritou, "o filme não tem protagonista". Como assim? Se o protagonista nos é apresentado no TÍTULO do filme? Quem é que atua na vida de todos os personagens? O Amarelo, presente na degradação de todos os personagens, do cabo da peixeira de Canibal aos dentes de Isaac, amarelo degradante que muita gente riu dele. Rir desse amarelo é desqualificar toda a obra de Cláudio Assis, caçoar de seus elementos e de sua forma, repito, original de fazer cinema.
Filme imagético, de onde as conclusões são tiradas da maneira mais delicada. Um necrófilo que praticamente sente o cheiro de morte, que "farejou" uma mulher que dizia "não suportaria ser traída", uma mulher que jogou fora todas suas crenças e que anda como um cadáver por qualquer rua do subúrbio recifense. A mesma mulher que prova estar viva, realizando seus desejos mais íntimos, a ex protestante casada com um ex-assassino que a privava de agir. As frases acima remetem a personagem vivida por Dira Paes.
O filme sofre de problemas conhecidos no cinema brasileiro, como falta de dinheiro, maquiagem medíocre, mas tem qualidade para ficar na galeria das Jóias do cinema brasileiro. Pena que o preconceito e os estrangeirismos presentes na subliminar consciência de cada um sirvam como venda, não permitindo observar a valia de tal obra de Cláudio Assis. Entendo os filmes dele como uma denúncia, afirmação dita pelo próprio diretor e que é o bastante pra entender seus filmes da maneira mais adequada.
Amarelo Manga é antes de tudo um filme que fala de libertação, seja pela morte ou seja pelo gênio de uma mulher traída. Propõe saídas para toda degradação causada pelo tempo. "O tempo destrói tudo", a primeira frase do filme "Irreversivel"(2002) de Gaspar Noe é uma citação válida pra falar do "tempo" como arma degradante, também presente na obra de Cláudio Assis (sempre a margem da "crpitica" brasileira), o Amarelo como consequência direta dessa decadência que acomete os personagens, Amarelo empoeirado, que toma forma e conta do filme. Se causa náusea, chegou onde queria. Se causa riso, a culpa é do espectador. "O amarelo é consequência direta da decadência", foi isso que ele me disse numa madrugada pelo Recife e é o que faz sua obra ter maior valia para mim, onde elementos poéticos se misturam ao "seboso" da humanidade e os personagens, cada um, tem uma essência (que já se pode dizer) "assisiana".



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