Texto: João Ernesto

As cenas são colocadas montando uma incógnita. A idéia de sonho é imposta pelo espectador. A trilha sonora se confunde com o ritmo das imagens tornando difícil saber quem dá o tom. O Surrealismo de Buñuel é, além de um marco, uma forma de abrir espaço para as variadas formas de se fazer cinema.

O manifesto surrealista, assinado por André Breton em 1924, pretendia fazer do “instinto um ponto de partida para uma nova linguagem artística”. Foi esse movimento que impulsionou, 5 anos depois, o lançamento de “Un chien andalou”(“Um cão andaluz”), primeiro filme do diretor espanhol Luís Buñuel em parceria com Salvador Dalí.

Na primeira cena somos familiarizados com o poder de Buñuel em fazer o espectador se angustiar, incitando nossos pensamentos e nossa capacidade de aceitar o que está sendo colocado a nossa frente. Um homem que afia sua navalha em noite de lua cheia, um corte num globo ocular feminino e o choque criado por uma cena que entrou pra história do cinema. De forma magistral o filme se impõe e nenhuma explicação plausível pode ser imposta (a não ser por métodos psicanalíticos). A angústia dá lugar ao prazer proporcionado pela maneira espontânea como filme se mostra.

Cada cena com sua essência e sem nenhuma explicação, como já foi dito, tudo pelo prazer de fazer cinema, de transcender o surrealismo à sétima arte. Robert Short, artista surrealista, disse uma vez que “o surrealismo chega ao seu auge quando faz o dia-dia estranho”, Buñuel consegue isso de maneira surpreendente em seu primeiro filme. “Um cão andaluz” marcou a história do cinema, pois foi impulsionado pela situação do mundo que se encontrava de cabeça para baixo no período entre guerras. Luís Buñuel não via porquê em fazer algo com sentido em um mundo que estava fora de ordem. Esse argumento é universal e constantemente atualizado, vivemos em um mundo louco e desordenado, no entanto queremos explicações para tudo que nos cerca. A ausência de sentido é vista com preconceito e aversão pela maioria do público, que logo rotula qualquer manifestação surrealista como algo fútil e banal, e esquecendo que qualquer manifestação artística tem o poder de falar por si e que o Surrealismo é para ser sentido e não entendido.




Curiosidade 1:
- No lançamento de Um cão andaluz, em 1929, Buñuel encheu seus bolsos de pedras por medo da reação do público,para sua surpresa o público adorou o filme e ele teve que descarregar os bolsosdiscretamente.

Curiosidade 2:
- A parceria de Buñuel com Salvador Dali durou apenas dois fimes. Um cão andaluz e A idade de ouro. Após o último filme Dalí se dedicou a ganhar dinheiro e a menosprezar seus velhos amigos, o que fez a amizade acabar de forma melancólica.


Curiosidade 3:
- Um chien andalou nasceu de um sonho de Buñuel e outro de Dalí. Algumas imagens dos sonhos são colocadas no filme, como “a nuvem cortando a lua como que cortando um olho” e “umamão rastejante, com formigas”.

Curiosidade (isso ta parecendo “Superinteressante”) 4:
- É de Buñuel a frase “sou ateu, graças a deus”.








P.S.: Darwin sempre com suas lembranças e seu comprometimento com o blog. Esse menino é divino, com rima ou sem rima.

Escritor por João Marcos (tomate), sexta-feira, 7 de setembro de 2007. Deixe aqui a sua opnião.