Depois de um texto triste de mau gosto, outro sobre o supermercado da música, outro sobre um show de um grande músico e outro sobre uma coletânea de muito bom gosto; essa coluna volta a falar de artistas de qualidade indiscutível, mas sem a atenção merecida do mainstream. Por se tratar de um recomeço, nada melhor do que recapitular o já apresentado: uma banda com bela poesia, um evento de música instrumental e um multiartista. É possível juntar esses três tópicos num só artista? Veremos.
Ela compõe belas letras que tratam do cotidiano sem exagerar na doses de paixão e alegria. Faz releituras e novos arranjos para clássicos da Música Brasileira como: “Asa Branca” e “Bom dia tristeza”. Toca percussão com o corpo e com a boca, com qualidade capaz de impressionar os mestres do beatbox. Também usa com excelência o recurso vocal de Bob McFerrin (fazer música apenas com a boca). Toca violão com agilidade e até mesmo com recursos dramatúrgicos sonoros (sim, ela reproduz sons ilustrativos de algumas letras, como o beija-flor em “Ai que saudade d’ocê”). Badi Assad é o nome artístico de Mariângela Assad Simão, a moça capaz de reunir todas essas qualidades.
A música está em suas veias. Pai bandolinista, mãe cantora e aspirante a piano, irmãos violonistas.
Badi Assad iniciou sua vida musical com um piano, mas logo teve de largá-lo. Por seu rápido progresso o piano que tinha em casa não lhe permitia desenvolvimento técnico e o que tinha conseguido emprestado para treinar ficava muito distante de sua casa, inviabilizando seus estudos. Aos 13 anos passou a acompanhar o pai com um violão, sua verdadeira paixão. Logo foi participando de concursos e vencendo alguns, até formar um duo (Le Due Romantique) com sua cunhada Fá Assad, aos 18 anos. Com esse duo de violão clássico, Badi passou a acompanhar os irmãos em suas turnês, abrindo os seus shows. Quando estavam em Israel, numa festa de divulgação, ela começou a sair da trilha de instrumentistas da família se oferecendo a cantar acompanhada do irmão Sérgio ao violão. De volta ao Brasil, fez aulas de dança, teatro e canto, além de voltar ao curso de Bacharelado em Violão pela UNIRIO/URCA no Rio de Janeiro. O Concurso Viña Del Mar, no Chile, de violão erudito se aproximava e a jovem estava inscrita. Na preparação para esse concurso ela machuca sua mão e cinco dias após desenfaixá-la viaja. Não o vence, mas descobre que seu futuro não está no violão erudito e assim parte para um caminho próprio dentro da música.
Depois disso participou do musical “Mulheres de Hollanda” dirigido por Naum Alves de Souza, onde pôde desenvolver a capacidade de se reinventar diariamente com o teatro, como explicita em seu site. Em 1989, lança no Museu de Imagem e Som de São Paulo “Dança dos Tons” com a participação de todos os músicos que gravaram o disco. Seu primeiro cd foi oferecido como brinde no final daquele ano na empresa Galvani. No seu primeiro show, um mês depois, vê-se sozinha no palco e percebe que poderia imitar alguns daqueles instrumentos: a flauta seria a melodia cantada, a percussão com a boca e com o corpo, o sintetizador imitando o som dos ventos com sua voz... logo seria conhecida nos Estados Unidos como: “one woman band”. Assina contrato com uma gravadora estadunidense e lança por ela: “Solo”, “Rhythms”, “Echoes of Brazil”. Durante as gravações deste último cd conhece o guitarrista Jeff Young, com quem foi casada, que lhe ajuda no desenvolvimento de sua carreira. Em 1998, pela i.e.music, um dos braços da Polygram, lança “Chamaleon” de enorme aceitação do público e da crítica. Sua escalada seguia gradativamente acontecendo. Na turnê desse cd, adquire uma lesão na mão que torna seu trabalho mais difícil e dolorido. Num show nos Estados Unidos, percebe que a lesão não a impede de fazer arte devido a seus outros talentos, principalmente a voz.
Em 1999, visita um neurologista e descobre que não tinha LER (Lesão por Esforço Repetitivo), mas sim uma distonia focal, “é como se você tivesse um pequeno derrame em determinada parte do seu corpo, e no meu caso foram esses dois dedos [anelar e mindinho] da mão esquerda, então eu perdi 98% dos meus movimentos da mão” disse Badi em entrevista a Jô Soares no dia 26 de novembro de 2004. A doença é rara e a medicina atual não tem conhecimento de como tratá-la. Depois de muitos tratamentos alternativos, e muita reflexão, “se o problema não foi no pé, foi na mão, é porque eu tenho que parar pra refletir coisas da minha vida”, Badi Assad recuperou-se completamente 2 anos depois. Em 2001, de volta ao Brasil, inciou a reorganização de sua vida: gravações, comprar e reformar o apartamento, abrir conta em banco, por em ordem a vida eleitoral... Era o reinício de apresentações pelo seu país, onde não fazia shows havia quatro anos. Em 2002, fez apresentações por palcos paulistas, cariocas, nordestinos (incluindo o Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga, ao qual voltou a se apresentar em 2007), centro do país, Estados Unidos e Europa. Em novembro do mesmo ano, foi convidada para ser solista da série “Outros Sons”da Orquestra Experimental de Repertório do maestro Jamil Maluf. A série só escolhe um convidado por ano e se apresenta no Teatro Municipal de São Paulo.
Em 2003, nova temporada de sucesso com apresentações no Supremo Musical em São Paulo ao lado de Carlinhos Antunes. No segundo semestre desse ano, teve início sua parceria com Toquinho com participação nos seus shows no Directv, em São Paulo, e no Canecão no Rio de Janeiro. Dessa pareceria viria o DVD ao vivo de Toquinho: “Só tenho tempo para ser feliz” gravado em 2004 no Canecão. Em agosto de 2003, grava o cd “3guitars” com Larry Coryell e John Abercrombie, dois ícones do jazz. No final desse ano é relançado por uma gravadora belga o cd “Dança dos Tons” (1989), com 4 músicas bônus, com o nome de “Dança das Ondas”.
Em 2005 saiu do Brasil em turnê com Martin Taylor, Peppino D’Aggostino e Brian Gore, fundador do projeto International Guitar Night (IGN), que reúne violonistas do mundo para tocar juntos em turnê de 13 ou 14 concertos. Em fevereiro o festival acaba e Badi segue em nova turnê, agora do “3guitars”, com apresentações no Brasil, na França e pelos Estados Unidos. Em março, lança na Europa seu primeiro cd que o Brasil conheceu antes dos estrangeiros: “Verde”, que lhe rendeu muitas entrevistas, fotos e revistas na Europa.
No festival de Jazz de Countance, França, conhece Seu Jorge, que dividiria a noite com ela. Depois de um contato com o cantor e sua banda no trem de volta a Paris, Badi o convida a gravar a música “Vacilão”¹, desconhecida por ela, no seu novo cd “Wonderland” que viria em 2006. A artista nasceu em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, hoje tem seu talento conhecido no mundo inteiro.
Enquanto Badi Assad não se apresenta novamente no Ceará, seguimos torcendo para que chegue o dia em que as emissoras de rádios passarão a fazer o seu trabalho, ou seja, divulgar música de qualidade para o povo, abrindo espaço para grandes talentos como esse, e para que a arte não seja como a educação, por exemplo, restrita ao pequeno grupo de pessoas.
** Pós-operatório **
http://www.badiassad.com/
http://www.myspace.com/badiassad
Fotos:
Edson Kumafaka [1ª,2ª] - Divulgação;
Fernando Velazquez [3ª] Álbum: "Verde"(2004)
+Momento 1: Esclarecimentos
Pois é, pra começar: não terminei a minha pesquisa, logo não saiu como eu queria... mas acredito que a vida desse grande talento da MPB, também chamado de “musa cult da MPB” pelo jornalista Luis Nassif, tenha ficado um pouco clara. Segundo: é difícil você chamar alguém com tantos recurso de “cantora” ou “instrumentista”... desculpe as possíveis repetições da expressão “a artista”. Ah, não tive tempo para revisar, pois já cheguei a um belo nivel de cansaço e se eu o fizesse agora essa coluna teria que ser abandonada por mais uma semana... logo, mais uma vez perdão.
“No mais, estou indo embora beibe”.
+Momento 2: Rodapé.
¹ música de Zé Roberto muito conhecida na voz de Zeca Pagodinho
+Momento 3: "Viva o Youtube!"
Como eu não consegui descrever...
sexta-feira, 21 setembro, 2007
gostei muito do texto preá!
a volta dos seus texto cult.. dá pra ercber q vc se dedicou muito a esse post, pesquisou pra caramba, e é muito fã dela!
faz com q todo mundo q não conhece queira conhecer pq vc descreveu muito bem do q essa artista é capaz! tem até um momento meio joseph kliber na carreira dela!
só pra deixar claro: ótimo texto, excelente tema!
sexta-feira, 21 setembro, 2007
eu acho ela digna de perfeição!
sábado, 22 setembro, 2007
Preá o texto tá mto foda, assim a falta dos teus textos no blog é até perdoada quando você escreve um texto mto obm como esse. Muitos elogios e ainda fez uma crítica a essas rádios-jabá, mto bom
terça-feira, 25 setembro, 2007
Acho que uma frase resume minha opinião para esse texto:
SE COLOCASSE ESSE TEXTO EM UM GRANDE JORNAL NINGUÉM NOTARIA QUE FOI FEITO POR UM [AINDA] ESTUDANTE.
Excelente.
quarta-feira, 26 setembro, 2007
ói, ói, ói, o Preá é nosso herói!
texto bem elaborado...
longo, porém fluente.
Parabéns.