
“Entrei, a porta estava aberta...” E muito mais que a porta...
Eu bem sei que o intuito do Blog não é opinar e criticar a produção dos diversos temas-colunas, mas sim dissertar sobre eles. Entretanto, tratando-se de arte, seria impossível apenas teorizar. É por isso que a partir de hoje, uma vez por mês, falarei sobre o teatro como produção, a arte feita e finalizada.
O teatro cearense, de forma alguma, deixa a desejar no que se trata de contemporaneidade, mesmo que isso seja um termo complicado de se definir no teatro. Poderíamos dizer que é um teatro experimental, um teatro que busca incansavelmente fugir de padrões e que tenta trazer para o palco elementos diversos, tornando-se um teatro pluralista. E são esses elementos diversos que enchem os olhos de quem vê as peças do Grupo Bagaceira.
Desde o começo o grupo busca uma estética cênica aliada aos quadrinhos. Seja nos tons preto e branco (como na esquete GIZ), ou com o exagero de cores (na esquete Figuras), a sensação é está diante de uma animação. E isso está, mais do nunca, exacerbado na peça PornoGráficos. O próprio nome já diz o que nos espera: uma história em quadrinhos erótica.
Quem assistiu à última peça do grupo, O Realejo, poderia esperar qualquer trabalho, menos esse. O Realejo é um encanto poético aos olhos e ouvidos do espectador, traz em cena uma história épica de amor e um lirismo emocionante. Porém PornoGráficos está no extremo oposto disso, mostrando a intensa diversidade do grupo.
“Um homem sentado à uma escrivaninha desenha freneticamente sob a luz de uma luminária. O chão está tomado por centenas de desenhos eróticos, não dá nem sequer para ver o piso de madeira. Ouve-se apenas o rabiscar do lápis no papel. Uma armação de ferro cerca o palco e o fundo é um grande pano vermelho.” Está é a cena que encontramos ao entrar no teatro. A história, assim como nas revistas eróticas, chega a parecer banal: um desenhista, o Punheteiro, um ser sexual acima de tudo, sofre a revolta de suas próprias criações. Mas o que está por trás disso está muito além...
A platéia sente-se desconfortável com a constante presença de um pênis de plástico, com as cenas de nudez e com as sombras que desenham o nu nos corpos dos atores; e muitas vezes o escape desse desconforto é o riso. As tiradas sarcásticas das personagens cospem ácido corrosivo na moral da platéia. O clima erótico, sensual e sexual transcorre em toda a peça, deixando o espectador sem fôlego ao final da peça, notando-se um leve respirar, como se ninguém o tivesse feito durante os 50 minutos de espetáculo.
Rogério Mesquita, Cristianne de Lavor e Edivaldo Batista conduzem um grande espetáculo, sob texto e direção de Yuri Yamamoto. A experimentação plástica da
peça, assim como a direção, são muito maduras. Vemos em cena exercícios de movimentação teatral, o uso de quadros e, assim como nas revistas, vemos um intenso contraste entre a energia dos quadrinhos pornôs e as pausas, que nos dão margem para pensar além do sexo.
Bem mais que mostrar um sexo banal, PornoGráficos quer mostrar o que há por trás daquele universo, mostrar o que há de mais escuro no interior de todos nós: um desejo compulsivo e incontrolável, uma perversão de valores morais. E acima de tudo quer transparecer uma forte carga energética contemporânea exclusivamente teatral!
“PornoGráficos”
Teatro SESC Emiliano Queiroz - 20 Horas. Temporada: 01, 07,08,21,22, 28 e 29 de Julho de 2007 - Sábados e Domingos
"Um desenhista atormentado por sua compulsão sexual busca em sua obra saciar suas fantasias e taras. Envolvido em sua obssessão, ele vê seu desenhos tomando corpo tornando imperceptível o limite entre o real e o devaneio. "
Texto e Direção de Yuri Yamamoto
Elenco: Christianne de Lavor, Edivaldo Batista e Rogério Mesquita
Sonoplastia, Cenário e Figurinos: Yuri Yamamoto
Iluminação: Rogério Mesquita e YUri Yamamoto
Supervisão Dramatúrgica: Rafael Martins
Assistente de Direção: Paula Yemanjá
Produção: Mário Alves
Assistente de Produção: Ale Rubim
Um espetáculo do Grupo Bagaceira de Teatro
Sites relacionados:
Grupo Bagaceira: http://www.teatroce.com.br/baga.htmlCaderno 3, Diário do Nordeste – Teatro:
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=450419&http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=447582Marcadores: Daniel Bandeira, Teatro
Escritor por Dan,
quinta-feira, 12 de julho de 2007.
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domingo, 15 julho, 2007
ótimo texto daniel!
nunca vi uma peça do grupo bagaceira, mas sempre ouvi excelentes elogios, faz muito tempo que quero conhecer o trabalho deles.
como sempre fazendo ótimas divulgações da produção teatral local!
=]
terça-feira, 24 julho, 2007
Primeiramente Dan arrasou no texto...mas não ouvi muitos comentários elogiando a peça.
Gosto do trabalho do Bagaceira mas,diceram-me que eles não foram muito felizes nessa montagem.
Agora é só assistir e tirar as minhas conclusões.
Beijão coisa escândalo!
quinta-feira, 13 setembro, 2007
Natural que, abordando um tema dessa natureza a peça provoque tanta polêmica. De minha parte, ADOREI!!! É triste, é bela, é profunda e corajosa.