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Especial: Ricardo Guilherme e o Teatro Radical.

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Muito tenho dito do teatro como arte e de forma universal. Hoje, porém, publicarei a primeira parte de uma entrevista com uma grande personalidade do teatro: Ricardo Guilherme! Ator, dramaturgo e diretor teatral, Ricardo, é um dos maiores nomes do teatro cearense, brasileiro e até mesmo mundial. Foi criador do Teatro Radical, que será tema da próxima semana.

A entrevista que segue a baixo é a primeira parte da riquíssima e maravilhosa entrevista realizada semana passada com o próprio Ricardo Guilherme. Devo creditar, antes de tudo, essa matéria ao meu grande amigo que desenvolveu as perguntas para a entrevista: Pedro Guimarães. Sendo assim, coube a mim apenas os meios de idealização, produção e realização da matéria.


ENTREVISTA DE DANIEL BANDEIRA COM RICARDO GUILHERME

1. Desde quando o senhor sentiu interesse por Teatro? Onde buscou aprendizado? Quais as suas maiores influências?

Meu aprendizado inicial nasce da dramatização da Palavra. Em 1969, aos 14 anos, eu já atuava em radionovelas nos estúdios da velha Ceará Rádio Clube. No ano seguinte, estreei no Teatro. Minha formação cênica é de autodidata. Ainda na adolescência descobri autores fundamentais como Stanislavski, Brecth, Artaud e Grotovski, dentre outros. Mas fiz também estudos de temas diversos: artes em geral, literatura, educação, comunicação social, psicologia, história, antropologia, filosofia, sociologia etc. Intuía que um ator deveria ser um humanista e que, portanto, não poderia se limitar apenas a fazer leituras sobre Teatro. Tive também o privilégio de ter como mestres Waldemar Garcia - que me despertou para a cultura teatral dos clássicos - e Clóvis Matias - que me motivou a pesquisar os folguedos, os melodramas de circo, os palhaços. Minha estréia teatral se deu na tradicional peça O Mártir do Gólgota. Este espetáculo era uma espécie de encontro de gerações. Nele atores veteranos e emergentes partilhavam experiências. Desde então, aprendi a reconhecer nos atores do passado um patrimônio de conhecimento que tem de ser reprocessado, redimensionado por novos modos do fazer teatral. Além de ter no Ceará a oportunidade de trabalhar com atores veteranos, pude ver em cena figuras oriundas da primeira metade do século XX, como, por exemplo, Dulcina de Moraes, Procópio Ferreira, Iracema de Alencar, André Villon, Henriette Morineau, Eva Todor e principalmente Dercy Gonçalves, que julgo ser a atriz mais radicalmente emblemática do século. Mais do que uma atriz, a Dercy é uma matriz. No Brasil, é ela que traz a marca do ator-cidadão, cuja representação filtra a personagem e a concebe perpassada pela personalidade do intérprete. A Dercy foi pós-moderna antes do modernismo, já era em pleno século XX uma típica atriz do século XXI ao se apoderar, ao se apropriar de tudo que fez e por ser, assim, autoral. E das matrizes de atuação dessa atriz de cem anos deriva o ator contemporâneo. Por exemplo, a Denise Stoklos. Na postura diante da vida e do teatro, ela é uma Dercy do Terceiro Milênio. Quanto a mim, acho que o meu viés de representação tem também sintonias dercyanas. As viagens que fiz (Espanha, Portugal, França, Alemanha, Angola, Argentina, Tunísia, México, Nicarágua, Cuba, etc.) me possibilitaram criar analogias, análises e subsidiar uma compreensão sobre o teatro, para ser um ator que, sim, estuda cientificamente o teatro, com todos os aportes que a contemporaneidade propicia, mas que não deixa de levar em conta o cabedal da tradição. Considero que, hoje, sou resultante dos desdobramentos de todos esses processos.

2. De todos os trabalhos realizados, quais se tornaram mais marcantes?

São quase 40 anos de carreira, mais de cem trabalhos realizados. Estive em diversos grupos e em todos eles realizei trabalhos que ampliaram o espectro do meu aprendizado até que em 1978 fundei o Grupo Pesquisa que produziu, em 1981, o solo Apareceu a Margarida, de Roberto Athayde, peça com a qual excursionei por inúmeros países. Esta montagem seria o marco de uma nova fase. Constituem outros destaques as montagens que foram marcos históricos na minha trajetória para o desenvolvimento da pesquisa sobre a Radicalidade:

1. Valsa Número Seis, primeira direção radical (1990);

2. Sargento Getúlio (1991), minha experiência inicial como ator na poética do Teatro Radical;

3. Flor de Obsessão (1993), por sua polifonia, seu caráter épico e despojado;

4. A Cantora Careca (1994), primeiro espetáculo não-solo do Radical

5. 68.com.br, por ter sido a primeira peça a reunir em cena todos os atores da Associação de Teatro Radicais Livres, consolidando o Radical como a poética de um grupo coeso (1998);

6. A Divina Comédia de Dante e Moacir (2000), por reafirmar o compromisso da minha dramaturgia com os arquétipos da cearensidade.


Segue abaixo uma breve cronologia do trabalho de Ricardo Guilherme no teatro:

Ator, dramaturgo e diretor teatral, com uma teatrografia de mais de cem espetáculos realizados, em quase quarenta anos de atividade, numa trajetória nacional e internacional, em que figuram temporadas em países da Europa, África e das Américas, além de prêmios como o concedido em 1987 pela UNESCO.
Historiador, com livros sobre a história do teatro cearense, premiado pelo Ministério da Cultura, nos anos 1970, por seu trabalho de pesquisador.
Contista, cronista, poeta, com obra publicada pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, Fundação Cultural de Fortaleza e Fundação Demócrito Rocha.
Jornalista desde 1978, com trabalhos de reportagem premiados pela Fundação Nacional de Artes Cênicas.
Professor da disciplina História do Teatro Brasileiro, desde 1979, no Curso de Arte Dramática da Universidade Federal do Ceará, com experiência de ensino em diversas universidades da Europa, da África, da América Central e da América do Norte.
Representante do Brasil em inúmeros festivais mundiais de teatro e congressos internacionais de encenação e dramaturgia.
Especialista em Comunicação Social e em Arte-Educação, reconhecido como Notório Saber em cursos de pós-graduação da Universidade Federal da Paraíba e Universidade Nacional de Brasília.
Fundador do Grupo Pesquisa (1978) e um dos integrantes da equipe fundadora da Televisão Educativa do Ceará (hoje TVC) e da Rádio Universitária.
Criador do Museu Cearense de Teatro (atual Centro de Pesquisa em Teatro)
Formulador da poética do Teatro Radical (1988).


Criador do Teatro Radical, Ricardo também fala da criação e realização do Teatro Radical, que serão publicados na segunda parte da entrevista, para o dia 28 de junho. Quero agradecer imensamente a enorme colaboração e disposição de Ricardo Guilherme, que se mostrou, desde o início, muito acessível para a realização dessa matéria. Ficam aqui registrados meus agradecimentos.


Como de habitual, divulgo aqui as Aulas Shows realizadas semanalmente por Ricardo:

  • Segundas-feiras no Teatro Universitário Carlos Magno, às 19:00. Entrada Gratuita.
  • Terças-feiras no Teatro SESC Emiliano Queiroz, às 19h. Entrada Gratuita.


Gostaria, também, de lembrar a peça:

TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA

Dias 21, 22 e 23 de junho às 21h no Teatro José de Alencar. Entrada: R$20,00/ 10,00 (torrinha); R$30,00/ 15,00 demais lugares. Montagem da Cia. Armazém de Teatro (RJ). Um grande sucesso de Nelson com um dos melhores grupos do país. Prêmio Eletrobras de Teatro 2006 (melhor iluminação, melhor cenografia e melhor figurino) e indicada a Melhor espetáculo e Melhor Direção.

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“Especial: Ricardo Guilherme e o Teatro Radical.”

  1. Blogger Pedro Guimarães disse:

    Um absurdo ninguém ter comentado até agora, hein?! =P
    Olha, li esse início de matéria e já estou bastante ansioso pela segunda parte. É ótimo ver as inúmeras influências que o Ricardo Guilherme teve; ele próprio influência pra inúmeros artistas, veteranos e novatos, no nosso estado. Já tinha ouvido falar vagamente em toda essa importância da Dercy que ele comenta, e vou procurar saber mais. Nossa, ele viu peças com Dulcina de Morais e Henriette Morineau! A Eva Todor eu conheço da tv e é espetacular! E ele foi aluno de duas pessoas tão importantes no nosso estado, além de ter feito inúmeras viagens. Toda essa mistura faz-nos perceber a riqueza da vivência teatral desse gênio. Sobre as peças... =/ Pena que não pude ver boa parte delas. Mas sempre espero mais outras demonstrações Radicais! Parabéns, Daniel! E que chegue logo a outra semana pra lermos a segunda parte! ;D

     

  2. Anonymous Anônimo disse:

    Dan, tu é fudido mesmo! Sempre trazendo coisas novas ao blog. Adoro a tua coluna. Essa iniciativa de vocês vai bombar, sinto isso! Parabéns sempre. Genial, genial...
    Beijão.

     

  3. Blogger Darwin disse:

    sempre que leio essa coluna tenho vontade de conhecer mais o teatro,
    os assuntos são ótimos e são escritos de uma maneira muito envolvente. Vou procurar saber mais sobre o Ricardo Guilherme...

     

  4. Blogger Marina Rosas disse:

    demorei pra ler, mas adorei o resultado!
    não conhecia o trabalho do ricardo guilherme, qr dizer, ainda ñ conheço, o q é uma pena, pois ele parece ser extremamente talentoso!
    mto bom daniel!
    tô aguardando msm a segunda parte da entrevista!

     

  5. Blogger Roger Pires disse:

    Bem ,
    dessa vez vou criticar ta bom?!

    acho que o texto ta legal e talz... mas quem não tá por dentro [por dentro mesmo] não se sente mtatrido pelo texo...
    eu gostei , acho sempre bom conhecer novas coisas, mas acho que uma critica tb vale né?!
    =)

     

 

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